Mais de mil formas de fazer sexo

Chega ao Brasil um livro com a mais completa compilação das fantasias sexuais modernas. Angelina Jolie está lá, assim como a cunhada, o vizinho, o vagão do trem, as trigêmeas...

Espartilho, cinta-liga, máscaras. Eu e dois homens estranhos. Plateia? Não descarto, mas um lugar reservado talvez fosse melhor. Se houvesse uma segunda mulher, também seria uma bela experiência. Não acho que viraria lésbica por causa disso. Sem falar que o homem entre nós duas ficaria maluco. Uma travessura eu já fiz: um namorado me levou a um prostíbulo. Pedi permissão à dona, pagamos, me vesti a caráter e encenamos. Ele era meu cliente. Foi inesquecível. Acho que fantasio muito porque sou curiosa. Mas não conto nem para minhas melhores amigas. As pessoas são muito preconceituosas. Já me separei de um homem que não era criativo e não fazia nenhum esforço para realizar minhas fantasias. Ele dizia que não tinha, mas era mentira, claro. Todo mundo tem, mas a maioria esconde.

O relato da paulistana Roberta, de 36 anos, advogada, ilustra uma certeza: o debate público sobre a sexualidade é cada vez mais natural, mas as fantasias sexuais permanecem tabu. Ela própria não quis se identificar. Os desejos secretos misturam prazer e dor, realização e sofrimento e embaraçam quem os experimenta. Por isso é raro ter um vislumbre desse pedaço da intimidade humana. Agora, porém, escancarou-se uma janela. Durante cinco anos, o psicanalista inglês Brett Kahr pesquisou fantasias sexuais. Coletou tantos relatos que ficou conhecido na Grã-Bretanha como “o homem das 19 mil fantasias sexuais”. Os depoimentos foram tomados no consultório, nas ruas e pela internet e depois organizados por temas e padrões. No livro Sexo e psique (Editora Best-Seller), que será lançado no Brasil no fim deste mês, Kahr transcreve mil relatos de homens e mulheres. Eles vão de vontades corriqueiras e totalmente realizáveis a transgressões ligadas a incesto, violência, escatologia e necrofilia. A estrutura lembra o famoso Relatório Hite (de 1976, atualizado em 2004), no qual a sexóloga Shere Hite expôs pela primeira vez e com total crueza os hábitos e as fantasias sexuais das mulheres americanas. Kahr sentou-se “numa ruela escondida de Londres, com um divã e cadeiras aconchegantes” e, como Hite, ouviu o que parecia inconfessável. Seu relato nos leva a um mundo de incestos e perversões que o dramaturgo Nélson Rodrigues, uma espécie de patrono da libido oculta brasileira, reconheceria de imediato como seu, ainda que os devaneios sejam ingleses.

“Existem dois tipos de fantasia: aquelas mais festivas, que revelamos com orgulho aos amigos de bar, e outras, que vêm das profundezas de nossa mente, que muitas vezes não revelamos nem aos companheiros ou muito menos a estes”, afirma. Para começar, explica Kahr, tais fantasias entranhadas na mente não têm nada a ver com o que somos na realidade. Cidadãos pacatos e civilizados podem simular violência sexual com a companheira e passar a vida sem fazer mal a uma mosca. Um homem heterossexual pode se excitar com a ideia de uma relação com outro homem e não por isso ter uma tendência homossexual. Uma mulher independente e bem-sucedida pode se imaginar submissa e humilhada sem deixar de ser o que é. Aquela que se imagina penetrando o marido com um pênis de borracha certamente não gostaria de vê-lo com outro homem. No livro, há uma paciente que fantasia ser torturada por Saddam Hussein, mas Kahr especula que ela fugiria se ele aparecesse perto dela – e não só porque ele está morto.

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