O grande número de adolescentes que compram a pílula do dia seguinte sem receita tem preocupado médicos e pais. A cada dez jovens que vão à farmácia atrás do método anticoncepcional de emergência, pelo menos sete (76,7%) não têm orientação de um ginecologista, segundo pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde. A prática traz dois riscos à saúde: a concentração de hormônios no medicamento pode gerar efeitos colaterais e a mulher não se protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).
A pílula, além disso, é incapaz de evitar a gravidez em 15% dos casos, mesmo quando ingerida dentro das recomendações. A taxa de eficácia do método cai à medida em que seu uso se torna frequente, de acordo com especialistas. A estudante de pedagogia Flávia Oliveira Figueiró, de 18 anos, sentiu isso na pele. Após quase dois anos consumindo a pílula de duas a três vezes por semana, engravidou.
- Você pensa que nunca vai acontecer com você, e vai se enganando - diz a jovem, que foi ao ginecologista pela primeira vez quando descobriu a gravidez.
Luciane, de 17 anos, também não teve a orientação de um médico quando comprou a primeira caixa da pílula, dois anos atrás.
- Conhecia (o método) porque tinha ouvido falar na escola. Fiquei com medo na primeira vez em que tomei. Estava na praia e não tinha usado camisinha - conta.
Flávia e Luciane frequentam o atendimento médico da Casa do Adolescente de Pinheiros, na Zona Oeste da capital. A pesquisa sobre a pílula, inclusive, é resultado de entrevistas feitas com 178 garotas com idades entre 14 e 18 anos que frequentam o local.
Os resultados indicaram aos médicos que 95% das garotas já ouviram falar sobre o método e que 35,8% das entrevistadas usaram a pílula do dia seguinte. Dessas, 76,7% são justamente aquelas que não recebem nenhuma orientação antes do uso. Os números mostram que as jovens perderam a virgindade, em média, aos 15 anos.
- Como cada vez a sexualidade está mais precoce, temos feito grupos para discutir o tema na Casa do Adolescente - diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente do estado.
Na última reunião, participaram cerca de 15 meninas. Enquanto falavam sobre os métodos anticoncepcionais, as ginecologistas pediam a participação das adolescentes. "Tomei a pílula muito tempo depois da relação e não funcionou", contou a estudante Mariane, de 18 anos. "Não quis tomar porque fiquei com medo. Hoje, vejo que é normal e que podia ter evitado a gravidez. Claro que a criança será bem-vinda, mas podia ser diferente", diz Cátia Barbosa, de 19 anos, grávida de quatro meses.
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