Viciados em sexo

Que sexo é prazeroso, ninguém discute. Que muitos queiram praticar com boa frequência, é difícil negar. Mas existe uma linha que divide a apreciação saudável pelo ato de uma atitude absolutamente compulsiva. Algumas pessoas gostam tanto de sexo que se imaginam várias vezes ao dia em inúmeras fantasias e têm constante necessidade de buscar o prazer. E, claro, essa ideia fixa traz diversas consequências negativas. Em alguns casos, é possível identificar este indivíduo como viciado em sexo. Então, qual é a fronteira entre o instinto sexual e o hábito desesperado e compulsivo?

O termo “vício em sexo” é usado para descrever o comportamento de uma pessoa que tem obsessão incontrolável por sexo. As coisas relacionadas ao ato sexual e a simples reflexão sobre a prática tendem a dominar as ações do viciado, o que pode culminar na diminuição de rendimento no trabalho e no desgaste das suas relações sociais e familiares. Contudo, as consequências podem ser ainda mais graves, e dependendo do comportamento apresentado, o doente pode deixar muitas coisas escaparem, como emprego, casamento, filhos, carreira e até a sanidade.

É o caso de uma dentista de 32 anos, que viveu situação constrangedora: "Fui ao banheiro me masturbar. Meu chefe arrombou a porta e me flagrou naquela situação. E, claro, fui demitida". E quando a pessoa é famosa, o caso fica mais constrangedor ainda. Como o golfista norte-americano Tiger Woods, que viu sua infidelidade estampada recentemente nos jornais do mundo inteiro. Após ser flagrado pela mulher, a ex-modelo sueca Elin Nordegren, várias casos extraconjugais vieram à tona. Afastado do golfe, ele resolveu fazer terapia conjugal e, segundo várias publicações, ficou internado numa clínica para viciados em sexo com o objetivo de salvar o casamento. Outro caso famoso que vazou foi o do ator Michael Douglas, que se tratou na década de 1990.

Descontrole

Em relação à doença, que acomete cerca de 2% da população brasileira, Arlete Gavranic, educadora e terapeuta sexual, explica que o compulsivo vira escravo da necessidade de sexo, e esse sexo não quer dizer que a pessoa viva uma relação de intimidade, amor ou prazer por estar com alguém, mas uma busca para apenas aliviar a tensão: “O vício em sexo implica necessariamente no desenvolvimento de uma vida dupla, para que todas as suas ações sejam mantidas em segredo”. Para Carmita Abdo, professora de Psiquiatria e coordenadora geral do ProSex (Programa de Estudos de Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas), é preciso investigar quando há uma mudança no comportamento sexual, ou seja, quando o indivíduo passa a ser controlado pelo desejo sexual. “O prazer só vira doença quando causa sofrimento, quando não há controle sobre ele e se impõe sobre qualquer outra necessidade ou urgência”, diz a especialista.

De acordo com pesquisa do psiquiatra norte-americano Martin Kafka, da Universidade de Harvard, os homens somam 95% dos indivíduos que sofrem com o aumento incontrolável da libido – geralmente com idade entre 20 e 30 anos. Isso porque desde pequeno eles são estimulados a viver uma sexualidade quantitativa como um sinal de virilidade. "Um dos meus pacientes, um executivo, tinha de ligar para a família ir buscá-lo no trabalho, pois caso contrário ele buscaria uma prostituta. Há também pessoas que procuram mendigos", relata Arlete Gavranic.

O que acontece

O viciado em sexo vive uma grande ansiedade que se manifesta por esses pensamentos, e que acabam se transformando em excitação sexual. Para atenuar a tensão que o domina, ele passa a se masturbar várias vezes por dia, mas quando a tensão é insaciável, a pessoa busca outros comportamentos sexuais, como parceiros fixos ou totalmente desconhecidos. “Eles têm necessidade de ter muitas relações e, caso não atinjam essa satisfação em casa, a procuram indiscriminadamente, o que traz muitos riscos, inclusive de doenças sexualmente transmissíveis”, afirma Carmita Abdo. “O indivíduo fica aprisionado e passa a ter no sexo sua única prioridade”, conlcui.

Muitas hipóteses sobre as possíveis causas da compulsão sexual já foram apresentadas por especialistas da área: carência ou problemas emocionais durante a infância ou a adolescência, traumas graves, depressão, descontrole comportamental e transtorno de ansiedade. Existe uma corrente que, inclusive, levantou a hipótese de ter origem genética – que em pouco tempo foi desconsiderada.

Como tratar

Para que a compulsão possa ser tratada, é preciso que a pessoa – ou alguém próximo – perceba o quadro e a necessidade de ajuda. Este indivíduo será cuidado pela psicoterapia com o auxílio de medicamentos (antidepressivos para diminuir a libido e o impulso sexual).

Outra opção indicada é a participação de grupos de autoajuda, como o grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (www.slaa.org.br), que promove reuniões para as pessoas partilharem suas experiências com outras que vivem o mesmo drama. “Esses grupos são extremamente úteis, porque às vezes é mais fácil enxergar o problema no outro, o que certamente ajuda na assimilação. Mas o ideal é reunir todas as medidas simultaneamente: tratamento psicoterápico, medicação e grupos”, explica Abdo. Em casos mais sérios, a internação em clínicas especializadas pode ser necessária para que o tratamento tenha êxito, como aconteceu com o ator Michael Douglas, internado no início dos anos 1990.


WILSON DELL'ISOLA/Colaboração para o UOL

[Fonte]

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