Aprenda a acordar cedo sem problema
Conheça personagens que acompanham o amanhecer frente a frente com o mar. Até o final da temporada, profissionais da RBS e convidados contarão neste espaço peculiaridades do litoral.
O plano era acordar às seis da manhã para ver o sol nascer na praia. Coloquei o celular para despertar no horário e fui dormir bem cedinho, com medo de que a minha força de vontade matutina não colaborasse muito com o projeto. Não que eu seja daquelas pessoas que fazem questão de dormir a manhã inteira quando estão na praia, apenas respeito meu relógio biológico e sua insistência em exigir oito sólidas horas de sono por noite. (Digamos que meu relógio biológico já é quase um relógio cuco, e convém não contrariar.)
Acordei com o auxílio inconveniente do calor e da falta de ar-condicionado. (Dica número 1: o desconforto é o melhor despertador para quem tem dificuldades para madrugar.) Olhei pela janela, e parecia duas da manhã. Será que tem gente que levanta nesse breu para caminhar? Não fiquei sabendo porque não fui conferir – e eu sou louca?
Voltei para a cama e dormi até as sete. (Dica número 2: levante rápido como quem foge de um ataque de percevejos de colchão, lave o rosto e escape do quarto antes que a tentação de voltar a dormir vença a parada.) Às 7h10min, sol nascido, eu já estava na frente do hotel. Nada nem ninguém à vista, descontando o moço varrendo a calçada em frente. Para o madrugador inexperiente e acostumado a evitar locais desabitados na cidade grande, o cenário era ameaçador. “Sou uma mulher ou uma tatuíra?”, pensei com minha canga. E ela ordenou: “Adiante, mulher de pouca fé”. E eu fui.
Logo em seguida, avistei o primeiro sinal de vida em movimento. Era um casal de adolescentes, sem a mínima pinta de quem acorda cedo para fazer os exercícios recomendados pelo cardiologista. Dito e feito. Ângelo e Maria Joana, de Serafina Corrêa, ambos de 16 anos, tinham atravessado a noite conversando com os amigos. Foram para casa, pensaram em dormir, mas aí lembraram que o sol estava nascendo no mar, e que esse é um espetáculo que não se perde por algumas horas de sono a mais – principalmente quando se tem 16 anos. O sol nasceu às 6h51min em Capão da Canoa naquele dia. Às 7h15min, eles já estavam voltando para casa. Mas não para dormir.
– Vamos tomar um tererê e voltar pra praia – informou Ângelo, cheio de energia, sob o olhar exausto e enamorado de Maria Joana.
(Dica número 3: se você tem 16 anos e um namorado (a) legal e bem disposto, nunca perca a oportunidade de ver o sol nascer na praia.)
Alguns passos adiante, encontro Susana, 39, e Terezinha, 53. Moradoras de Capão da Canoa, as duas caminham uma hora na praia, todos os dias da semana, desde setembro. Chegam ao calçadão por volta das 6h20min e marcham em passo acelerado até as 7h30min. Levam tão a sério o negócio que chegam a tomar um composto recomendado pela nutricionista para repor as energias.
E não dá uma preguicinha básica de vez em quando? , quis saber.
– Nesse tempo todo, fiquei com preguiça só umas duas ou três vezes, mas aí lembrava que a Susana estava esperando e não podia deixá-la na mão – conta Terezinha.
(Dica número 4: encontre alguém que deixe você com remorso de dormir até mais tarde.)
Na beira do mar, o cenário é de praia de Santa Catarina nos anos 70 (em termos de habitação por metro quadrado, bem entendido). Nada que lembre a Capão da Canoa muvucada de qualquer dia quente de fevereiro às duas da tarde. Antes das oito da manhã, a tranquilidade da praia permite que você caminhe absorto em seus pensamentos, sem desviar de guarda-sol, gente espaçosa, cachorro sem-noção, jogo de frescobol.
Mas o seu Lacy, 73 anos, de Canoas, exagera. Ele chega na praia às 5h (fala sério, seu Lacy...). Arma o caniço e fica pescando até mais ou menos 9h, quando a praia começa a encher. Não pega muito peixe, admite, mas isso não tem muita importância. O que ele gosta é de ficar ali, com o pé enfiado na água, pensando na vida e olhando o sol nascer devagarinho. Só pelo barato.
(Dica número 5: depois de passear na praia cedinho, tomar um bom café da manhã e ler o jornal, volte para cama e durma mais um pouquinho. Foi o que eu fiz.)
claudia.laitano@zerohora.com.br
CLÁUDIA LAITANO
[Fonte]
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