O número de mulheres em altos cargos corporativos tem mostrado uma elevação nos últimos 13 anos. Segundo levantamento recente da Catho Online, site de classificados de currículos e empregos, entre 89 mil empresas cadastradas o percentual subiu de 10,39% em 1996 para 21,43% em 2009, mostrando que mais mulheres assumiram postos de presidente e CEO.
A presença feminina na vice-presidência das empresas também aumentou: de 10,82% em 1996 para 17,47% em 2009. Já o número de diretoras saltou de 11,6% para 26,29% no mesmo período.
Um exemplo desse aumento jamais imaginado há algumas décadas é a executiva Marise Barroso, 46 anos, que assumiu a presidência da Amanco Brasil no último dia 1º de julho - empresa líder no segmento de tubos e conexões na América Latina. Com 28 anos de experiência nas áreas de marketing, vendas e desenvolvimento de novos negócios, ela ocupava o posto de diretora de marketing da empresa desde 2005 e foi indicada pela Mexichem, controladora da Amanco, para o atual cargo. "Eu já era a segunda pessoa na estrutura da empresa, então foi um processo natural", diz ela. Por isso não encontrou dificuldades na nova gestão. "Houve, sim, mudanças, afinal pessoas que não se reportavam a mim passaram a fazer isso. Mas assumir a presidência não quer dizer que preciso me inteirar de tudo, pois sempre acompanhei todas as áreas", diz.
Já Sonia Hess, 53 anos, inspira-se no empreendedorismo da mãe, que fundou a Dudalina em 1947, empresa especializada em camisaria masculina, de Santa Catarina. Ela assumiu a presidência em 2002, indicada pelo conselho da empresa, hoje com 1.270 funcionários, dos quais 80% são mulheres. Até então atuava na área de marketing e produto. "Minha mãe teve 16 filhos e ainda construiu a Dudalina", diz. Por isso, ela acredita na força das mulheres e na superação das dificuldades para gerir uma empresa.
Ainda em desvantagem
Apesar do aumento da presença feminina em altos cargos das empresas, a diferença ainda é grande em comparação com os homens. Segundo a executiva Denise Damiani, responsável pela área de comunicação e alta tecnologia da Accenture América Latina, multinacional que atua no ramo de consultoria de gestão e serviços de tecnologia, o fato de as mulheres não crescerem mais que os homens no mundo corporativo não está ligado a falta de desejo, ambição ou competência. "Os homens evitam abrir espaço para as mulheres nas empresas, pois, se abrirem, a competição dobra", diz ela.
Essa percepção está baseada em sua vivência e nas pesquisas realizadas pela Accenture para entender por que poucas mulheres não conseguem evoluir na carreira. Um levantamento feito em 20 países detectou que 71% das mulheres se acham pouco desafiadas. "Isso mostra o pouco espaço aberto às mulheres nas corporações", diz.
Por outro lado, muitas empresas estão preocupadas com a perda de grandes talentos, não importa o sexo, já que investiu nesses profissionais. Por isso, nos últimos oito anos surgiu um movimento mundial nesse sentido. "Quando se tem só homens nos altos cargos, a inovação fica limitada. A diversidade traz outros pontos de vida", diz Denise, casada e mãe de filhos gêmeos, de 17 anos.
Para dar força a essa tendência, Denise lidera um comitê de iniciativas para as mulheres na empresa, que inclui encontro anual com as demais líderes e criação de uma intranet para troca de experiências. "Com isso, saímos de 3% de executivas em 2003 para 17% atualmente na empresa", diz.
Outras empresas caminham no mesmo sentido, como a UPS do Brasil, empresa de transporte e logística, presente em 200 países, que criou o Programa de Desenvolvimento de Liderança Feminina. A iniciativa tem o objetivo de criar oportunidades de desenvolvimento para as mulheres, que compõem 40% do quadro da empresa. E está dando certo, pois o grupo já conta com presidentes do sexo feminino no Brasil, Equador, República Dominicana, Peru e Bolívia.
Mulheres x gestão
Será que a gestão feminina é diferente da masculina? Para Denise Damiani, sim. "As mulheres têm muita capacidade de entendimento e outra perspectiva, já que as experiências e os interesses são outros", diz. ¿Mas existem aquelas mulheres que acham que precisam mimetizar os homens para dar certo. Prefiro acreditar no estilo de cada um."
Sonia Hess, casada e três filhos adultos, concorda e prefere não se basear nos estereótipos. "Apenas acho que os homens sejam mais gananciosos e as mulheres mais ambiciosas na gestão das empresas", diferencia. E lembra: "A maioria das empresas familiares, cerca de 60%, geralmente começou com o trabalho de uma mulher". Em sua gestão, ela vê detalhes femininos, como presentear os funcionários no fim do ano com algo diferenciado, o que não acontecia em outras gestões.
"Hoje, as corporações dirigidas por mulheres alcançam patamares maiores na cultura da empresa, na sensibilidade. Isso agrega à empresa", diz Marise Barroso, casada e uma filha, de 10 anos. "Em casa também se vê o comando da mulher. Por que não acontecer isso também nas corporações e na política? E com sucesso."
Fonte: Rosana Ferreira - Especial para Terra
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